O quadro de deterioração financeira da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) piorou além do previsto e levou a empresa a apresentar ao mercado um plano de contenção da alavancagem. Benjamin Steinbruch, principal acionista e presidente do grupo, participou da teleconferência ontem com investidores e analistas durante a manhã - um fato raro - para assegurar que o foco está na recuperação da saúde financeira.
Nas palavras de Paulo Caffarelli, diretor corporativo da companhia, reduzir a alavancagem é a "palavra de ordem" na corporação agora. O executivo confirmou que nesta semana foi dado o pontapé oficial para a venda de ativos considerados não estratégicos e que podem ajudar na redução do endividamento. Os bancos foram contratados e há possibilidade de "venda imediata", disse ele ontem no evento.
"A desmobilização de ativos é agora o principal motivo de nosso trabalho, no sentido de reduzir a alavancagem. Acumulamos ótimos ativos ao longo do tempo, mas em função da mudança do quadro do custo do dinheiro, do preço do minério de ferro e do mercado interno pior, optamos por concentrar esforços em ativos 'core' [estratégicos]", explicou Steinbruch. As operações que estão disponíveis para alienação são o Tecon, terminal de contêineres da companhia em Sepetiba (RJ), e algumas unidades de energia. Além disso, a participação excedente na ferrovia MRS e as ações da concorrente Usiminas, estão na lista.
A fatia de 17,4% no capital social da Usiminas vale, a preço de bolsa, quase R$ 1 bilhão. Na MRS Logística, os 7,8% "excedentes" de ações ordinárias, acima dos 20% de limite em direito de voto, poderiam render cerca de R$ 155 milhões. Os papéis preferenciais valeriam R$ 504 milhões. Em energia, as operações cotadas para alienação são os 29,5% na hidrelétrica de Itá (SC) e os 18% de Igarapava (MG).
Para o BTG Pactual, a venda de ativos seria positiva, mas as condições atuais do mercado estão distantes das ideais. Para equilibrar as contas, seria necessário vender ao menos R$ 5 bilhões, "o que achamos difícil", diz o banco em relatório. A decisão de suspender o pagamento de dividendos, todavia, foi bem-vista. Já para o UBS, outro risco que a CSN corre é ter de fazer uma baixa contábil nos próximos trimestres em mineração, como fez a Usiminas.
As ações da companhia terminaram o pregão de ontem na BM&FBovespa em queda de 9,55%, cotadas em R$ 3,60. Além de ter figurado na maior perda do principal índice, esse patamar representou a pior avaliação do mercado para a CSN em quase uma década - desde outubro de 2005.
Seu valor de mercado foi a R$ 5 bilhões, ou quase US$ 1,5 bilhão. Para efeito de comparação, quando vendeu a fatia de 40% da mineradora Namisa a seus atuais sócios asiáticos, o grupo recebeu US$ 3,1 bilhões. A Namisa representa uma fatia pequena da produção de minério, de 15%, e menos ainda dentro do resultado consolidado da CSN.
A companhia contabilizou prejuízo líquido de R$ 614,3 milhões no segundo trimestre, ante lucro de R$ 21,7 milhões um ano antes. A receita líquida caiu 9% também em comparação anual, para R$ 3,69 bilhões, e o resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado atingiu R$ 801 milhões, queda de 38,5%. O desempenho fraco é fruto da baixa venda de aço no país e da depreciação do minério de ferro no último ano.
O problema da CSN é que a empresa convie com uma dívida bruta pesada - R$ 31,87 bilhões no fim de junho. E vem queimando caixa a cada trimestre. No segundo, alcançou praticamente R$ 1 bilhão, elevando endividamento líquido em 3,9%, a R$ 20,8 bilhões. O menor Ebitda, aliado ao avanço das obrigações líquidas, deixou a alavancagem da CSN, medida pela relação dívida líquida/Ebitda, em 5,6 vezes. No fim de março, o índice era de 4,8 vezes. Há um ano - 2,7 vezes.
Pesou ainda sobre o desempenho da ação a declaração de Caffarelli, diretor corporativo, de que uma distribuição de dividendos não está atualmente na agenda da companhia. "Essa foi uma posição tomada pelo conselho de administração, pelo presidente-executivo e pela diretoria", declarou.
Outras siderúrgica do país também tiveram queda na bolsa - Usiminas PNA recuou 2,73% e Gerdau PN, 1,9%. No ano, as perdas da CSN alcançam 29,9%, ante 40% de Gerdau e 29,5% da Usiminas. Porém, em 12 meses, o desempenho da siderúrgica comandada por Steinbruch já é o pior.
Segundo a CSN, as três frentes adotadas para conseguir conter a deterioração em sua saúde financeira passam por maior eficiência operacional, foco na gestão financeira e entrega de novos projetos com investimentos mais centrados em operações mais rentáveis. No lado financeiro, a gestão de caixa, de custos, de capital de giro e de passivos financeiros. Os investimentos serão contidos: previsão de R$ 1,3 bilhão este ano e R$ 1,5 bilhão em 2016, ante R$ 2,24 bilhões em 2014. (Colaboraram Camila Maia e Daniela Meibak)
Fonte: Valor Econômico